segunda-feira, 19 de julho de 2010

Casamento gay - e agora?

"Quando assumiu o serviço público, Koop também precisou aprender a distinguir o imoral do ilegal. Nem tudo que ele considerava imoral era ilegal, uma distinção que muitos outros conservadores fracassaram em fazer. 'Não cobiçarás' é uma questão moral tão séria que foi incluída como um dos Dez Mandamentos. Que prefeitura ou governo nacional poderia criar uma lei contra a cobiça? O orgulho é um pecado moral, talvez o pior pecado, mas podemos fazer com que o orgulho seja ilegal? Jesus resumiu a Lei do Antigo Testamento no mandamento: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento' (Mt 22:37); que autoridade humana poderia policiar o cumprimento de tal mandamento? Apesar de os cristãos terem a obrigação de seguir os mandamentos de Deus, isto não quer dizer que devemos automaticamente transformar esses mandamentos morais em leis a serem cumpridas pelo Estado. Nem mesmo a Genebra de João Calvino ousaria adotar o código legal do Sermão da Montanha".


Bem, esse trecho do livro "Alma Sobrevivente" de Philip Yancey* introduz um pouco a questão que eu quero abordar no post ressuscitador deste blog: Casamento gay.
Ai, polêmica. É, eu sei. Diante da legalização do casamento gay pela Argentina, muitos brasileiros (gays ou não) bradam pela legalização por aqui também e aproveitam pra criticar ferozmente os cristãos e os homofobicos que insistem em manter tudo do jeito que está.
Como pode ser visto na breve descrição desse blog, eu sou evangélica, mas me recuso a ver o cristianismo como uma filosofia (ou religião, como queira) preconceituosa. Jesus disse pra amarmos o próximo como Ele nos amou e não para julgarmos o próximo como Ele julgará (João 13:34). É preciso entender que os homossexuais são criação dEle, assim como todo o resto do mundo. São pecadores, sim. Mas e quem não é? (Romanos 3:16). Já virou até clichê, mas "aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela" (João 8:7b).
Não estou aqui pra defender o homossexualismo. Acho, sim, que é errado e pecado assim como mentir, falar palavrão ou matar, mas também acho que desrespeito e julgamento são pecados igualmente condenáveis.


"Se acreditamos que a prática homossexual é imoral, devemos transformá-la em ilegal? Há não muito tempo, a Igreja da Inglaterra debateu uma questão com muitos paralelos: divórcio. A Bíblia tem muito mais a dizer sobre a santidade do casamento e o erro do divórcio do que sobre a homossexualidade".


Com essas palavras, Yancey não está defendendo o casamento gay e sim o tratamento contra a AIDS que era condenado por ser considerado uma punição às pessoas de "má conduta".
Hoje o divórcio é muito comum. As pessoas já casam pensando na possibilidade de uma separação. Até as igrejas estão cheias de pessoas divorciadas. Também não quero condenar tal prática, afinal, se me "aceitam", pecadora, dentro da igreja, por que não aceitar uma mãe solteira? E um homossexual?
Um homossexual casado tem melhores chances de não se envolver em casos "extraconjugais" e assim contrair DST's e afins. Um homossexual casado pode passar ao seu cônjuge os bens que adquiriram juntos quando chegar a falecer. Um homossexual casado pode ser dependente de seu cônjuge em um plano de saúde ou algo parecido.
Não é uma questão de "é pecado, então não pode". É uma questão de direitos que todos deveriam ter independente de suas escolhas.


*Os trechos citados nesse post foram retirados do capítulo "Serpentes e Pombas em Praça Pública" do livro Alma Sobrevivente (2004 - Editora Mundo Cristão). O capítulo trata da vida do Dr. C. Everett Koop, médico cristão que foi nomeado Secretário da Saúde dos Estados Unidos e teve que lidar com problemas referentes à AIDS e ao aborto. O autor do livro é Philip Yancey, jornalista e escritor cristão.